MEMÓRIA:

Caso Hanry Silva Gomes

Era dia 21 de novembro de 2002, data mudou para sempre a vida da então dona de casa Márcia de Oliveira Silva Jacintho, quando seu filho Hanry Silva Gomes da Siqueira, de 16 anos, foi assassinado à queima roupa pela Policia Militar no Morro do Gambá, zona norte do Rio de Janeiro. Apesar de ter conseguido condenar dois dos policias responsáveis pela morte de seu filho, Márcia diz ter pagado um preço alto pela Justiça. Ela conta que foi perseguida, vigiada e grampeada pela polícia, e que continua vivendo à sombra do medo, mas conseguiu limpar o nome do filho, morto acusado de ser traficante, e colocar na prisão os culpados por sua morte foram os objetivos de vida que deram força à revendedora Márcia de Oliveira Jacinto nos anos que se seguiram.

Caso Hanry

Hanry Silva Gomes da Siqueira era estudante e havia recém chegado de Minas Gerais para morar com sua mãe, Márcia de Oliveira Silva Jacintho, no morro da Nossa Senhora da Guia, conhecido como morro do Gambá, no bairro do Lins, Zona Norte do Rio de Janeiro. Tinha 16 anos quando foi assassinado quando voltava para casa no dia 21 de novembro de 2002. Ele foi abordado por policiais do 23ª Delegacia de Polícia e do 3º Batalhão de Polícia Militar o seguiram pelo mato e o mataram com um tiro no coração, à queima-roupa. Como costuma acontecer em casos de execução cometida por policiais, foi divulgado que o rapaz era traficante e que havia sido morto em troca de tiros. Segundo a polícia, ele estava com uma pistola e drogas e teria reagido à entrada de policiais no local.

A mãe de Hanry registrou queixa de homicídio na 25ª DP, onde foi aberto o Inquérito Policial número 5332. Sem entender de procedimentos policiais e com medo de ir à delegacia, ela colocou em prática o que via em filmes: com a máquina fotográfica e ajuda de testemunhas, fotografou o rastro de sangue do corpo do filho. Mais tarde comprou um gravador e, ouvindo um vizinho aqui, um amigo do filho ali, encontrou testemunhas do crime. Entre elas, um rapaz que viu os policiais roubarem um lençol do varal vizinho e entrar no mato, e um menino que os PMs mandaram correr momentos antes do crime.

Sem entender de procedimentos policiais e com medo de ir à delegacia, ela colocou em prática o que via em filmes e seriados de TV: com a máquina fotográfica e ajuda de testemunhas, fotografou o rastro de sangue do corpo do filho. Mais tarde comprou um gravador e, ouvindo um vizinho aqui, um amigo do filho ali, encontrou testemunhas do crime. Entre elas, um rapaz que viu os policiais roubarem um lençol do varal vizinho e entrar no mato, e um menino que os PMs mandaram correr momentos antes do crime.

 

O estopim para conseguir forças, por ironia do destino, foi dado por um traficante. “Um dia um menino, de fuzil na mão, me viu chorando e perguntou se eu era mãe do Hanry. Ele disse que meu filho não tinha nada com o tráfico e que um policial disse que o acertou no peito” -lembra – “Foi difícil. O Ministério Público mandava a delegacia investigar e, como eles não faziam nada, eu fazia as diligências sozinha”, diz Márcia de Oliveira Silva Jacintho.

As testemunhas foram ouvidas pelo próprio Ministério Público. Foram citados onze suspeitos, mas apenas o cabo Marcos Alves da Silva e o 3º. tenente Paulo Roberto Paschuini foram denunciados pelo Ministério Público, cinco anos depois, em novembro de 2006, e pronunciados em setembro de 2007, sob acusação de homicídio doloso e fraude processual. À época do crime, os réus eram, respectivamente, soldado e cabo, mas desde então foram promovidos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

 

No dia 20 de março de 2012, em uma das audiências do julgamento do ex PM Paulo Roberto Paschuini, a ComCausa esteve no Fórum do Rio e gravou um depoimento de Márcia Jacintho.

Julgamento

Após uma verdadeira batalha e uma longa peregrinação em busca de provas, Márcia Jacintho, dilacerada pela dor e indignada com a opressão e a injustiça, conseguiu marcar duas importantes vitórias contra a violência policial nas favelas e bairros populares da cidade do Rio de Janeiro: provou que o filho não tinha envolvimento com o tráfico de drogas e, no dia 2 de setembro de 2008, quase seis anos após o crime, se iniciou a ação judicial.

Somente em 2019 o ex-policial militar Paulo Roberto Pashuini que confessou ter sido o autor do disparo, foi condenado a 11 anos de prisão em regime fechado por fraude processual e assassinato do estudante Hanry Silva Gomes de Siqueira. O outro réu do caso, Marcos Alves da Silva, foi condenado a três anos de prisão, acusado de ter forjado provas para “justificar” a ação policial. Um revólver teria sido colocado em uma das mãos da vítima, assim como um saco com maconha próximo ao corpo. A mãe de Hanry afirma que Silva já estava preso por assalto à mão armada, num processo em que foi condenado em 1998 e que “era para ele estar preso no dia que matou meu filho”, disse.

Na sentença, a juíza Tula Corrêa de Mello afirma que o réu “praticou os fatos na condição de policial militar à época do crime, em violação aos deveres inerentes a seu ofício e dever de zelar pela segurança, pela ordem pública e pela vida dos cidadãos, conforme que lhe é confiado pela sociedade e pelo Estado, que dispendeu recursos na sua preparação e qualificação para atuar justamente no combate a crimes”.

“O choro não vai aliviar os gritos de ‘por quê?’ aqui dentro, que chegam a fazer doer no peito. Mas minha missão foi cumprida. O nome do meu filho foi limpo”, resume Márcia. Para conseguir o feito, ela largou o emprego de vendedora e fez denúncias ao governo do Estado, ao Ministério Público, às corregedorias de polícia, ao então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, e até à Organização das Nações Unidas (ONU).

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